David Bosch
A missão na esteira do iluminismo
Neste capítulo Bosch pretende nos mostrar como o iluminismo
influenciou o pensamento e a prática missionária desde o século XVII, para
tanto,
faz uma rápida leitura do processo histórico que vai da
Idade Média ao Iluminismo. Dessa forma,
se demonstra que houve uma mudança de paradigmas que culminou na ênfase dada
aos animais, plantas e objetos, no lugar das instituições validadoras da
estrutura social: Deus, igreja e nobreza.
Sete elementos constitutivos do iluminismo:
- Supremacia da razão. O raciocínio tornou-se o ponto de partida inquestionável de todo o conhecimento humano.
Separação entre sujeito e objeto. Através da separação do
ser humano do seu objeto de pesquisa (animal, mineral e vegetal), podia-se
examinar e estudar o mundo a nossa volta, inclusive o próprio ser humano. Isto
culminou na ênfase dada à “parte” em detrimento do “todo”.
- Eliminação do propósito. Eliminando-se o propósito, ou o “porque” e “para que” as coisas existem, trabalha-se com ênfase nos efeitos. Estes são passivos de explicação.
- Otimismo no progresso. Foi a grande força motriz a partir da qual, acreditava-se que se desenvolveria sempre para melhor, e que os benefícios seriam compartilhados com todas as nações, inclusive as que estavam em desenvolvimento, e que poderiam contar com a ajuda das nações ricas.
- Distinção entre fator e valor. “Aos fatos se contrapõem os valores, baseados não no conhecimento, mas na opinião, na crença. Não é possível contestar fatos: valores, por seu turno, são uma questão de preferência e opção”.
- A crença de que todos os problemas, a princípio, são solucionáveis. Se não existia uma solução era porque ainda não se conheciam os dados necessários para tal.
- Os seres humanos são indivíduos emancipados e autônomos. Havia fé na humanidade. Logo, cada indivíduo deveria ser livre para fazer suas próprias escolhas.
De acordo com o autor, depois de todas essas mudanças o
cristianismo também passou a ser diferente. Se antes a vida em todos os seus
desdobramentos era regida pela religião, quem dava as cartas agora era o ser
humano. O cristianismo, religião mais influente no ocidente de então, foi
submetido à grande relativização e colocado ao lado de outras religiões. Para
provar a influência do Iluminismo sobre o cristianismo, o autor utiliza-se das
sete características citadas acima, mostrando-nos como elas mudaram o
cristianismo.
Conseqüências dos sete elementos constitutivos do
iluminismo no cristianismo:
- Supremacia da razão. “A razão suplantou a fé”. Dessa forma, foram exigidas da teologia e da igreja algumas respostas, Bosch destaca cinco:
- Separação entre religião e razão. Colocando a religião no campo das emoções e experiências.
- Privatização da religião. Tornando-a uma questão pessoal.
- Declaração da religião como ciência. Difundida principalmente entre teólogos.
- Supremacia da razão. “A razão suplantou a fé”. Dessa forma, foram exigidas da teologia e da igreja algumas respostas, Bosch destaca cinco:
- Criação de uma sociedade cristã. Tornando a religião cristã a oficial do Estado.
- Adaptação à sociedade secular. Segundo o autor, de certa forma, essa resposta foi “uma modernização do deísmo do século XVII”.
- Separação entre sujeito e objeto. A aplicação à teologia daquilo que se fazia com as ciências naturais foi sentida principalmente na área da pesquisa bíblica.
- Eliminação do propósito. A conseqüência dessa característica é clara no pensamento religioso atual, o qual se tornou extremamente pragmático e preocupado com resultados ou invés do propósito.
- Otimismo no progresso. Evidente no triunfalismo cristão moderno.
- Distinção entre fator e valor. Colocou a religião cristã ao lado das outras religiões, as quais representavam apenas valores diferentes, e que, portanto, poderiam ser escolhidas de acordo com a preferência.
- Todos os problemas, a princípio, são solucionáveis. Segundo o autor, “esse dogma excluiu os milagres e quaisquer outros acontecimentos inexplicáveis”.
Os seres humanos são indivíduos emancipados e autônomos.
Cada indivíduo estava apto para discernir a verdade e fazer suas próprias
escolhas.
A partir disso, o autor pode concluir que essas reações “eram,
em última análise, condicionadas e, inclusive, ditadas por ele [o paradigma
iluminista]”. Sendo impossível voltar para o período anterior ao advento
iluminista, cabendo a nós aprendermos a lidar com as transformações efetuadas.
Supunha-se que o iluminismo fosse criar um mundo de
pessoas iguais, um mundo em que a solidez da razão humana indicaria o caminho
para a felicidade e a abundância universal. Isso não se materializou. Ao
contrário, as pessoas ficaram temerosas e frustradas como nunca antes.
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